Por que Portugal?

porta portugal

Somos uma família ítalo-brasileira, daquelas que, nos moldes do século passado, construiu sua vida à base exclusivamente de trabalho e esforço. Somos daqueles que não têm medo do suor. E resolvemos nos mudar para Portugal.

E foi com estudo, dedicação e muito trabalho, que construímos nossa vida e honramos nossa família no Brasil. Construímos uma história, um caminho – e temos orgulho das nossas conquistas.

Mas o mundo tem mudado em alta velocidade. Estima-se que, nos últimos 30 anos, tenhamos assistido a mais mudanças e progresso do que nos últimos 300 anos anteriores.

Nossa geração é a única que assistiu à complexidade de dois mundos absolutamente opostos: testemunhamos uma vida totalmente analógica, comunicando-nos com nossos amigos à distância, por meio de cartas, nas quais colávamos o selo com uma bela lambida, e também testemunhamos uma vida completamente digital, onde ninguém sobrevive sem um smartphone sabichão na mão.

garoto alegre

Porém, esse incrível avanço tecnológico não se refletiu, necessariamente, em todos os aspectos da humanidade, nem foi equânime em todos os lugares do mundo, como algo positivo. Nós, que fomos criados na cidade de São Paulo lá atrás, ainda andando soltos pelas ruas desde crianças, com liberdade e segurança, apostando todas as nossas fichas e esperanças no potencial do trabalho, hoje vemos um cenário muito mudado.

Brasil x Portugal

O Brasil nos entristece em muitos aspectos – e podemos dizer isso porque somos viajantes contumazes, conhecemos muitos países e culturas pelo mundo afora. O país do futuro, aquele país da promessa, não aconteceu.

Somos gratos a Deus e a todos que cruzaram e cruzam nossos caminhos, pelas experiências e oportunidades, muitas das quais soubemos agarrar para prosperar. Amamos nossa terra, amamos nossa casa, amamos nossos amigos.

celular

Porém queríamos essa experiência, de vivenciar outra cultura. Uma cultura que cultivasse…a cultura. Um lugar que ainda prezasse por valores nos quais nós acreditamos, e pelos quais também vivemos. Onde furar a fila ainda fosse feio, onde um furto de celular não fosse perdoado num palanque. Onde estudar e se dedicar ainda fosse incentivado.

Queremos que nosso filho vivencie uma cultura que ainda ensine esses valores. O valor do “ser”. Retrógrados? Talvez. Mas indiscutivelmente esperançosos.

Então, diante das possibilidades de um mundo tão globalizado, onde viajar e mudar de residência é tão mais fácil do que antes, surgiu Portugal.

torre de belém

Portugal, um país pequeno, terceiro país mais seguro do mundo. Onde, supostamente, andar com um celular nas mãos ou um tênis nos pés não é tão assustador.

Um país onde ainda se come comida de verdade, cozinhada na panela, incluindo peixe e vegetais. Um país onde uma garrafa de vinho custa 4 euros, as ruas são limpas, a educação é decente, o vizinho educado. Onde trabalho ainda dignifica o homem.

Mas não é só isso. É lusófono (palavra linda, que significa que tem como língua pátria o português) e, até pouco tempo atrás, mantinha um acordo de reciprocidade com o Brasil quanto ao exercício da advocacia.

Esse acordo foi unilateralmente rompido ano passado, mas nada impede que, passando pelo procedimento padrão, eu revalide meus 25 anos de diploma brasileiro. Se sou uma excelente advogada aqui, o que me impede de ser uma excelente advogada lá, com o mesmo propósito de servir à Lei?

Por fim, e não menos importante, um país que está ali, a uma esticada de braço da Espanha, uma pernada da ‘nostra Italia’, e uma suspirada da França. Para quem gosta de viajar, um prato cheio de tentações.

Xenofobia, dificuldades, burocracia? Sim, é possível. Nunca tivemos a experiência de residir fora do Brasil, mas não somos tolos ou ingênuos. Como existe o bairrista, que brada seu bairro nas brigas de rua, sabemos que existe aquele que não aprecia lá muito o estrangeiro que vem abraçar a cultura do seu país.

Partimos cientes, porém dispostos a amar esse povo e essa cultura. Partimos com planejamento, preparados, esperando encontrar no velho mundo, num lugar do passado, o nosso país do futuro.

Cenas dos próximos capítulos.

Um grande abraço,
Cynthia.

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